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domingo, 18 de maio de 2014

Lírica

Poemas
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Lírica

Isabel Cintra Nepomuceno


Ouço uma música suave…
Uma valsa.
Fecho os olhos para me dar conta do voo de minha alma até onde penso que estás.
E chegando mansamente, para que não te assustes, tiro o lápis de tua mão e, com um sorriso, te levo a dançar, sem uma palavra sequer, entre os móveis, as pessoas, os lustres, as janelas, o tempo.
Os violinos nos levam pela sala como se fôssemos plumas no ar!
Há uma infinita luz que nos acompanha; aquela, tênue, de fim de tarde, branda como um carinho, um sussurro, um silêncio mágico.
E assim rodopiamos pela sala, por onde nos é permitido passar; olhos nos olhos, num sorriso e num compasso, sem pressa, sem dor…
Ouça.. está chegando aos seus últimos acordes…
Deixo-te em tua mesa de trabalho, admirando o desenho que estás a terminar e fico contente em ver que este é colorido.
Escancaro a janela de minha alma e como cheguei, sem um ruído sequer, parto no último raio de sol.
Antes, beijo-te as mãos… os olhos… a boca… sem me importar com a platéia que, extasiada, ainda não crê no que viu.
Aqui de volta, sentada diante deste teclado, procuro as letras, as palavras que possam contar, um pouco que seja, desta valsa, deste voo, desta visão…
Sinto-me ainda feliz e leve como uma nuvem a voar ao sabor da brisa da tarde, ou como uma borboleta que acabou de sentir o perfume de sua flor preferida.
Prometo que, quando tu menos esperar, irei aí novamente te convidar a rodopiar entre os móveis e as pessoas, num tempo em que só nós que sonhamos, conseguimos nos situar.